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poemas

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como é teu sexo mulher?

 

servi-lo ao olhar alheio

sem nunca vê-lo

nem de esgueio

 

como é teu sexo mulher?

carne crua, que sangra,

despertando lobos

 

platônica e úmida caverna

buraco negro de parir estrelas

boca sem fala a engolir falos

 

como é teu sexo mulher?

não é pétala, não é página

 

vulva vulgar é a vagina que te define

ode aos rotos

 

os miseráveis, os rotos

são flores do esgoto

 

são mortos vivos

no shopping do crack

 

esfarrapados da moda

nunca roubam o suficiente

para uma conta na suíça

mendigos, exibidores de feridas

são sobras sem uso social

dejetos humanos

são nossas fezes depois do banquete

espelhos do nosso egoísmo

reflexo sem maquiagem

prova da nossa existência

são o outro, vire o rosto

não veja agora

mas o você sem dente

sorriu para você

enquanto fuça na lixeira

eu me vi na dor das paredes sem reboco,

na dor de nascer e não merecer acabamento.

me vi no vazio das vielas sem luzes

cheias de perigo eminente, assalto e estupro

me vi na ladeira íngreme e sem asfalto

que me faz cada despedida

me vi vila, cidade, paisagem, e até ilha me senti

me vi perigo a cada esquina

não me vi no google maps e nem no street view

a ninguém interessou meus guetos

e eles nasceram para te proteger

e você pensando ser prisão os negou beleza

fugiu pela porta que nunca existiu

desceu a ladeira, correu vielas, riu dos meus

tijolos de amor à vista

meu amor é uma favela, só quem nela nasce

a chama bela

Gosto de um poema intitulado solidão. Não faço poemas intitulados solidão.

Não faço porque a solidão permeia Todos os meus poemas.

Ela fica à espreita, na rima fácil que eu rejeito.

Espremida nas entrelinhas do texto. Uma solidão penada.

Não falo da solidão para não levantar suspeitas.

De todas as constâncias, foi ela a mais perfeita.

Quando eu nasci, foi ela quem cortou o umbigo.

Na festa de quinze anos, dançou a valsa comigo.

Foi ela quem velou meu sono depois do parto. E também secou o leite do filho roubado.

Ela não me abandona No casamento perfeito, me soprava receitas. Lavava louça comigo.

Aos domingos, a solidão toma sol comigo E deixa marcas nas minhas costas. Eu e a solidão somos muito mais que bons amigos.

o deserto pensando ainda

ser mar  faz onda, e muda as

brancas dunas de lugar 

Sou daquelas que nada pedem

 

Se não te peço jantares, regalos,

e nem mesmo olhares

Se não te peço a mão, o abraço no salão,

estes clichês da paixão

Não é meu amado decerto

por de ti nada querer

No oposto do que não peço

o que quero não se implora

Nem se ganha por decreto

relacionamento, casamento

e tantos sacramentos não o protegem

O que desejo de ti

encerra em si início e fim,

é eterno por não existir

Traz em si a qualidade do etéreo,

é energia consciente sem matéria

é metafísica pura, não é poética

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